segunda-feira, setembro 19, 2011

Tempo...volta ao teu tempo

Vivemos nos dias que correm a pressa de atrasar o tempo. Queremos que o relógio mude, porque um dia não dá para nada, porque não há tempo a perder, porque tem que se dar tempo para estarmos em todos os sítios, com várias pessoas e fazermos várias coisas. Até eu me canso a mim mesma só de ler tudo isto. Parece que de repente começamos a olhar a vida com olhos cansados, com tempo limitado para crescermos, desfrutarmos, usufruírmos, de tudo aquilo a que dedicamos tanto tempo... A solução parece simples, mas afinal não se trata de cortar as opções no nosso quotidiano. Se para uns, o tempo deve multiplicar-se e até ir além das 24 horas, para outros, o tempo passa lento demais. Gostos não se discutem, nem o tempo de cada um. Há quem leve mais tempo a alcançar aquilo que devia, há quem aproveite cada segundo. As mulheres e homens de hoje esperam fazer recuar o tempo, procuram soluções e cremes, ginásios e cirurgiões, quando olham para as marcas de expressão na pele... As crianças querem que o tempo voe. Que a idade de serem "crescidos" não demore a chegar, porque têm sonhos para construir.
Tempo e beleza, tempo e idade, tempo é saúde, tempo é dinheiro, não é aquilo que ouvimos constantemente? Sabemos lá no fundo que a vida nos revelará tudo, que o caminho é feito ao nosso ritmo, que aquilo que não escolhemos pode muito bem ser aquilo que nos faz mais felizes. Mas não conseguimos fugir a esta rotina imposta por nós mesmo, quebrada pelo passar dos anos. Não terá má índole, esta "insatisfação"... esta "pressa de chegar", como cantava Variações, mas pode degastar cada respiração ao segundo, cada pedaço de nós. talvez seja tempo de percebermos que não são os cremes que disfarçam as rugas, que não é o BI que revela a nossa idade, que não é o trabalho que nos define e que não estamos presos a nada sem ser por vontade própria.
O tempo urge. O tempo é agora. De fixarmos no horizonte o sermos cada dia mais, cada dia melhores. Com imperfeições e virtudes. Porque a beleza não é um estatuto e porque o acaso também faz algum sentido. Ensina-nos a respeitar a Vida...ela também tem o Seu próprio tempo...

Opinião de Ana Rita Clara, jornal Metro, Setembro 2011

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